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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O poder da Igreja


Em Israel, por causa da teocracia, o poder temporal e o espiritual fundiam-se e
se confundiam. Quanto mais politicamente consolidada a realeza tanto mais sólida a
soberania nacional, mais poderosa a Igreja, mais dominadora. A tradição israelita,
embora crucificada no Calvário, permanece ainda muito viva em nossos dias, tanto na
forma de “igreja-estado”, caso Vaticano, como a de “Igreja do Estado”. O Estado
brasileiro, escamoteando a constituição federal, tem sua “Igreja oficial” em
detrimento, e até exclusão, das demais igrejas e credos. Aqui, o catolicismo é “oficial”,
não apenas oficioso. Nenhuma instituição pública inaugura-se sem a bênção clerical
romana, sem a água benta dos aspersórios sacerdotais, sem a entronização do
crucifixo. O país tem a sua “santa padroeira”, à qual presta culto oficial, paralisando
todas as atividades estatais, paraestatais, autárquicas e particulares, no dia 12 de
outubro, com prejuízos incalculáveis à pátria e desrespeito às demais profissões de fé,
seitas e grupos religiosos, supostamente com “iguais direitos”. O privilegiamento do
catolicismo é uma ofensa aos não católicos, uma injustificável quebra do espírito
democrático ( a igualdade de todos perante a lei ), pois a nação se submete a um clero
extensivo e ostensivo, prostra-se aos pés da Sé romana, professa, legalmente, uma fé
mariolátrica, liga-se oficialmente ao Vaticano por meio do Nunciatura Apostólica, a
mão política do clericalismo romano. A palavra “Igreja”, nas expressões oficiais,
significa “romanismo”. Ouvir a “Igreja” não é “ouvir os cristãos”, nem se quer os
leigos católicos, mas apenas o clero de Roma, quer por meio da núncio apostólico quer
por intermédio do clero.
Os velhos conceitos de “Igreja-estado”, “Igreja do Estado” ou “Estado da
Igreja” levam os incautos a confundirem “evangelização” com politização; libertação
espiritual com libertação socioeconômica; escatologia com realização final de um
projeto político; doutrinação com “conscientização” ideológica; poder espiritual com
poder temporal; mudança por regeneração com mudança por revolução; remissão de
pecados com rendição aos sistemas ideológicos e transformações econômicas; a paz
interna do novo nascimento com a paz imposta pela espada dos “camaradas”; a bênção
da prosperidade pela graça de Deus e ação produtiva e ergológica dos homens
responsáveis, enquanto servos de Deus, com programas estatais de distribuição de
rendas; o “dar a César o que é de César” com privilégios e direitos; sem a
contrapartida das obrigações e dos deveres, isto é, receber o mais possível e dar o
menos que puder. Com semelhantes conceitos eclesiásticos pode-se preparar
“eficientes” beatos e “excelentes” revolucionários, mas não cidadãos sinceros e
incorruptíveis, cristãos verdadeiros, submissos a Cristo e a serviço da pátria.
Igreja não é “partido político”, não é sociedade ideológica; é corpo de Cristo e
se alimenta do pão do céu, da verdade revelada. Compartilha com os demais grupos
sociais o pão da terra, mas não o prioriza; está presente nas instituições seculares por
meio de seus membros, inclusive na política, mas é “instituição divina”.

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