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terça-feira, 12 de março de 2013

 Inovações por minuto.


Ser inovador não é tão difícil quanto você pensa: muitas vezes, basta parar para ouvir, ou tentar se colocar no lugar das pessoas que gostamos de chamar de “nossos consumidores”, para que as boas ideias apareçam. Para mim, é inevitável pensar nisso cada vez que reparo em um dos fenômenos de comportamento que tenho presenciado em São Paulo.
Todos os dias, ao caminhar pela avenida Paulista, me deparo com aquelas pessoas com camisetas coloridas (designando a ONG ou a empresa que representam) abordando os pedestres nas horas de pico para roubar “só dois minutinhos do seu tempo”. É fácil localizá-las entre as centenas de pedestres que andam em massa, apressados como cardumes de peixes coloridos, e se desviam automaticamente cada vez que um obstáculo aparece no caminho.
Será que estas pessoas, e as organizações para as quais elas trabalham, ainda não perceberam que os pedestres da Paulista não têm ‘dois minutinhos’ para lhes conceder? Até uma estrangeira como eu já reparou nesse pequeno detalhe. Se não são pais atrasados (e cansados), que têm que chegar em casa para atender seus filhos, são jovens igualmente atrasados (e cansados), a caminho de qualquer uma das múltiplas atividades que lotam suas complicadas agendas.
Antes mesmo de começar sua jornada, eles já começam a planejar como vão se esquivar desses desagradáveis obstáculos que ameaçam atrasar ainda mais sua já complicada rotina. A última coisa que esses indivíduos querem é parar para responder um questionário à moda antiga (com papel e caneta). Só mesmo o criador desses formulários não sabe o quanto esses ‘dois minutinhos’ podem fazer diferença nesse caos diário que vivemos como sobreviventes em uma grande cidade.

Bem, toda vez que deparo com esse fenômeno, lembro de uma experiência que vivi quando trabalhava em Sri Lanka. Na época, uma simples conversa com esse tal de consumidor me ajudou a criar uma ideia que foi considerada inovadora. E, na verdade, o papo nem foi com o consumidor, e sim com uma pessoa que tratava diariamente com ele.
Lá estava eu trabalhando como gerente de produto de uma empresa que produzia leite em pó para crianças, quando meu chefe me passou uma tarefa: eu teria que fazer uma promoção para dobrar as vendas do produto pelos próximos três meses. Alguma outra marca não estava indo bem, e eu fui designada parar arquitetar o resgate das vendas do trimestre. Glup.
Em primeiro lugar, eu já estava cansada de trabalhar com um produto que não conhecia bem. Além disso, o grande trunfo do leite em pó era um ‘ingrediente mágico’ que prometia incrementar o QI das crianças. Nem eu, que gerenciava a marca, acreditava naquela promessa, muito menos os pediatras que tentávamos convencer a nos dar um aval. Para piorar as coisas, naquela época eu não tinha nenhum interesse no universo infantil, então nem imaginava o que faria uma mãe comprar mais leite em pó.
Mas esse era meu ponto de partida: a mãe que compraria o nosso produto. E quem conheceria melhor essa mãe do que o pediatra, que já não queria mais me receber no seu consultório? Fiquei imaginando com era a rotina daquela mãe, e assim cheguei na minha solução: iria conversar com a professora do jardim de infância frequentado pelos pequenos pimpolhos para os quais meu produto estava direcionado.
Fiz uma lista de escolas para conhecer, mas só precisei de uma visita para achar a minha ideia inovadora. Perguntei para a professora o que as crianças gostavam de fazer. Ela respondeu: “Ah, elas gostam muito de brincar com esses finger puppets (dedoches) de papel que fazemos em aula e usamos para acompanhar as canções como Twinkle, Twinkle Little Star (conhecida no Brasil como Brilha, Brilha, Estrelinha).”
Missão cumprida. Não precisava visitar mais escolas, nem falar com mais ninguém (nesse ponto, discordo das pesquisas quantitativas: acredito que um depoimento pode valer mais que mil entrevistas). Sabia o que iríamos fazer – distribuir finger puppets como brindes junto com cada embalagem de leite em pó. O próximo passo foi achar um fornecedor que pudesse fazer os brinquedos. Tomamos ainda o cuidado de levar em conta o perfil das mães do Sri Lanka – como elas não sabiam o que eram os dedoches, criamos comerciais que mostravam como utilizá-los.
Em dois meses, os produtos da promoção estavam esgotados e o fornecedor (responsável por uma das muitas máquinas que fazem brinquedos de pelúcia para as grandes marcas internacionais) já tinha copiado a ideia e apresentado para seus clientes. A promoção, que deveria durar três meses, se estendeu por mais três. Como havia cinco tipos diferentes de brinquedos, as crianças queriam colecionar, o que aumentava ainda mais as vendas.
Bom, voltando para o fenômeno da avenida Palista. Será que esses seres bem intencionados que se posicionam ao longo da avenida não repararam que a única razão pela qual um pedestre interrompe seu passo apressado é para comer algo, ou então para ouvir um dos músicos que se apresentam na calçada, e que o ajudam a esquecer o estresse? Não sei dizer quantas vezes eu já me senti grata e quis dar um par de moedas a um desses artistas de rua, para compensar a mini explosão de felicidade que provocaram no meu tão cansado corpinho.
Na minha opinião, a solução para esses seres que querem pegar os nossos dados é tão simples quanto óbvia (e eu generosamente estou dando de graça): amarre a mensagem que você quer transmitir com o trabalho de um desses artistas de rua. Você estará fazendo duas coisas boas: ao mesmo tempo em que apoia o trabalho desse músico, oferece uma mini explosão de felicidade para todas essas pessoas (não consumidores!) que passam diariamente por ali. E, por favor, não interrompa a música – coloque o formulário de lado e coloque uma placa pedindo para as pessoas deixarem seu cartão ou os dados de que estão precisando.

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